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Exposição: Alguém, algum lugar (2022)

Fernanda Naman é uma esteta por natureza. Em suas fotografias, a artista cria um universo imagético que parte do seu olhar atento para o mundo ao seu redor, sempre em busca de imagens que deem conta de humanizar as relações com o entorno, do micro ao macro. Como se ela nos guiasse em um exercício de nos fazer pensar em como olhamos para as coisas diz muito sobre como construímos nossas percepções, sobre nós e sobre o outro.

 

Não obstante, esta exposição se forma a partir do olhar atento de Fernanda para os últimos anos que nos atravessaram de forma intensa, a fim de ressignificar os momentos de isolamento e distanciamento social em outras perspectivas, como o da coletividade e do resgate de memórias internas.

 

Um exemplo dessa mediação é a série Floating - Bolhas (2020). Em um primeiro contato com as imagens, imediatamente meu olhar se voltou para algo interno e celular, como se precisássemos nos olhar para as menores partículas que nos constituem a fim de enxergar o todo. Ao mesmo tempo, as imagens também sugerem a ideia de coexistência. São nessas dualidades que os trabalhos de Fernanda, aqui apresentados, estabelecem um lugar de interessância, de forma que a artista passa a nos guiar em uma espécie de mediação entre o interno e externo. 

 

E essa mediação também é dada conforme vamos caminhando pelas imagens e observando a gradação de cor que vai se formando. Começando pelo fundo preto e uma marcação de contrastes mais escuros, as fotografias vão ganhando um tom mais claro e colorido, que pode ser compreendido metaforicamente nesse mergulho interno, que em um primeiro momento nos parece assustador, mas que depois se revela em novas possibilidades de existência. 

 

Já em Extremos - Paisagens (2017 - 2019), a artista nos coloca novamente em diálogo sobre essas relações dentro/fora, interno/externo. Diante da impossibilidade de vislumbrar novas paisagens, como buscar sentido em um mundo a partir de experiências já vividas? Dessa forma, Fernanda resgata imagens de viagens que, a princípio, são antagônicas, mas que aqui, se apresentam de forma complementar. E é nessa busca por uma resposta entre como nossas experiências pessoais se relacionam com a experiências coletivas que a artista no guia por uma narrativa imagética que, embora muito particular, está super alinhada com uma das perguntas mais contemporâneas: qual o novo normal?

 

Ao nos colocar em movimento sobre essas temáticas, umas das possíveis respostas levantadas pela artista é a busca pelo equilíbrio, que nessa exposição Fernanda celebra a partir do estado meditativo que suas fotografias nos colocam. E é exatamente dessa conexão proposta pela artista que poderemos criar novas possibilidades de futuro e buscar pelas novas imagens que queremos criar. Para nós e para o mundo.

 

Carollina Lauriano

Exposição: 11 Anos de Desejos (2018)

 

A série fotográfica Desejos, criada inicialmente em 2007, aborda uma questão há muito discutida: Qual a força motriz do desejo material? Poder? Status? Auto-estima? Auto-afirmação? Carência?

 

O que me inspirou a criar essa série foi a reação das pessoas diante das vitrines, um símbolo do consumo e que inevitavelmente me faz questionar por que as pessoas desejam as coisas? Que prazer isso traz? Este prazer é efêmero ou pode perdurar mesmo depois de conquistado?

E se não conquistado, qual a frustração que isso acarreta? O quanto nos sentimos pequenos diante da não possibilidade de realizar um desejo de consumo? Ou ao contrário, se sabemos que ele está ao nosso alcance, será que compreendemos a importância do “estado de desejo”?

A questão é, quando ele é atendido, algo se perde. Muitas vezes, o desejo dá lugar ao vazio. Ou então, dá lugar a um novo desejo. 

 

Numa época em que as pessoas estão tão desconectadas de seus valores espirituais, parece que simplesmente consumir aumenta a auto-estima e dá a falsa sensação de que preenche os espaços vazios e supre as carências afetivas.

 

Difícil tarefa é achar seu real significado, mas se ele nos dá prazer, que mal há nisso?

A vida é feita de pequenos prazeres e grandes desejos.

 

Fernanda Naman

Exposição: Desejos (2011)

 

No princípio deste ano, envolvi-me num projeto beneficente e fui a algumas galerias e casas de artistas amigos pedir doações para um leilão. Na Arte Aplicada, generosamente, Sabina de Libman, abriu-me à escolha diversas obras de seu acervo. Elegi três, uma delas a fotografia da fachada de uma casa de alta costura em Paris, com uma pequena silhueta feminina no primeiro plano. O encanto resultava sobretudo da utilização de um recurso simples (aumentar o tempo de exposição e girar a zoom enquanto o diafragma está aberto), criando-se assim um movimento de formas e luzes desfocadas e um certo clima de fantasia – se não mistério. Só depois fiquei sabendo que a autora era Fernanda Naman, cujas jovens pinturas eu vira há alguns anos.

 

Várias das fotos desta exposição são irmãs da que mencionei. Apenas ampliam, um pouco, a manipulação da realidade – já que as silhuetas são produzidas em separado do fundo e introduzidas, depois, com o Photoshop. O mesmo programa é usado para outros efeitos, em outros trabalhos, e visto que a arte é essencialmente artifício, ficção, mentira, não vai nisso nenhum problema – é claro. Ao longo da história da arte, novas técnicas vão-lhe naturalmente enriquecendo os domínios, e todas valem, quando bem empregadas. O diabo é quando o artista perde a mão e o limite, abusa dos efeitos, e/ou adere a um novo academismo. Na fotografia atual, o desfoque pelo desfoque, por exemplo, virou uma simples receita da moda.

 

Felizmente Fernanda escapa a ela e a fórmulas empobrecedoras. Está em busca de suas próprias descobertas, sensivelmente, sem complicar nem rebuscar. Se gosto mais de umas que de outras (isto é subjetivo), no todo só me cabe elogiar-lhe esta primeira individual de fotografia. Contente com o talento e a competência da jovem artista, auguro-lhe um bom trabalho e um merecido sucesso.

 

Olívio Tavares de Araújo

 

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